domingo, 20 de dezembro de 2015

CHEIRO DO FINAL DA NOITE

Garçons, músicos, seguranças, equipe de limpeza, taxistas, guardas, gerentes de restaurantes ou de casas noturnas. Sabem que a noite tem seu cheiro peculiar. E por que levantar a tese do aroma noturno? Só quem a aspirou durante a labuta, servindo aos notívagos terá a clareza de compreender o que escrevo. Escrevo durante a madrugada. Diante da tela, meramente lembro do odor. Nem bom, nem ruim. Marcante. Tem cheiro de quê? De mistura de bebidas confundidas com o frescor noturno. Envolvidas com o mofo dos estojos dos instrumentos musicais. Do velho caderninho que serve de repertório musical. Das garrafas abandonadas nos engradados nem sempre consumidas totalmente. Das fumaças dos cigarros. Das pontas dos cigarros jogadas ao chão. E das esquecidas no cinzeiro transbordante. Do dinheiro roto do bêbado para pagar aquela que virá antes da saideira. Do pano do vestido da meretriz que cola na pele suada e lambuzada de perfume. Do interior do táxi à espera de um afortunado para seguir viagem. O cheiro característico que me encontrava a cada final de baile. Não é dos melhores. Também não provoca náuseas. Faz bater saudades de que a noite é a melhor amiga, amante, fiel e companheira. E cúmplice. E se perde feito a meretriz que vai para casa contando os trocados, que cheiram a dinheiro velho misturado ao pior dos conhaques pagos por um cliente indeciso. O conhaque misturado ao perfume, ao suor, ao vestido encharcado. Odor que raros percebem em meio à multidão. Odor que os poucos levam às suas casas. Odor dos que servem à noite.

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