Dificilmente cito nomes das personagens em minhas
crônicas. Não me perguntem os critérios (ou a falta deles). Quem sabe seja para
criar mistérios. Ou para sugerir pistas. Ou porque inventei de elaborar novo
estilo de crônica (invencionice que só vai massagear meu ego). Em alguns casos,
a depender da temática, para preservar as fontes. E não esgotá-las.
Abro exceção a Plínio. Amigo, compadre, que faz par
comigo na alegria, na tristeza, na saúde e na doença e, ainda bem, enquanto a
vida nos une há 27 anos (ou como estaria na imaginária placa em frente à
empresa “Desde 1988”). Jornalista diplomado, porém com pouca atuação na área e,
por isso, um dos melhores jornalistas que conheci. Principalmente no âmbito
esportivo. Eu poderia aqui despejar elogios aos recentes 50 anos que ele
completou, mas meu propósito é destacar o comentário que ele me fez hoje (22 de
outubro) sobre o assunto que lhe é peculiar: futebol.
Plínio não se limita ao esquema “quatro-quatro-cinco-meia”
ou “aos avanços do ataque em função da rapidez dos volantes” ou “tal time
adquiriu gordura na pontuação” (essa tal “gordura” foi uma das piores metáforas
que “engordaram” o jornalismo e quase todo mundo copiou). Ele é sensato,
objetivo, fala o que poucos têm coragem de dizer. E, novamente, por isso é um
dos meus jornalistas preferidos. Não traz o vício dos coleguinhas (maioria) que
diz “graças a mim, tal político caiu”, “se não fosse minha matéria, o hospital
fecharia as portas”, “minha reportagem prendeu os bandidos”. Menos, menos. Quem
prendeu, quem lacrou, quem não permitiu, enfim, foram os órgãos competentes
(polícia, justiça), e não o jornalista. Somos apenas um meio, não o fim. Isso
quando não escuto “fui chamado pelo dono da empresa” ou “eu pedi para sair
porque não aguentava mais”. Sabemos que poucas vezes é assim. Estrelas. Plínio
é jornalista. Não praticante. Ainda bem!
O que me motivou a escrever sobre os dotes de Plinio foi
a crônica que ele me enviou por mensagem de áudio, pelo Whats App. Disse ele (a
respeito da derrota do São Paulo, por 3 a 1, para o Santos, pela Copa do
Brasil) que “o São Paulo tá igual ao Brasil, se acha a referência no futebol.
Não é mais. Não é mais o exemplo de organização”. E passou a descrever a
importância (ou não) de cada jogador do elenco principal do clube. Descreveu
com maestria a ponto de eu, do outro lado, pensar que “o São Paulo nada mais é,
atualmente, do que um depósito de jogadores”. A riqueza do cronistas está aí,
em permitir a interpretação por parte do receptor (é o que insisto quanto ao
famigerado “o que o autor quis dizer?”, tão comum nas escolas; para mim, vale o
que quem leu ou escutou interpretou).
Plinio atuou por algum tempo, logo que se formou, em
emissora de rádio em Curitiba. Claro, na área esportiva. Depois, enveredou para
o comércio alimentício. Ganhamos uns quilos a mais com os quitutes da saudosa
Pão Quentinho, lá do Capanema (porque Jardim Botânico, para mim, ainda é Capanema),
mas perdemos a inteligência e a versatilidade nos comentários esportivos.
Plínio, meu compadre, pai da minha afilhada Giovana,
recebeu de mim, ao fim da audição do comentário de hoje a seguinte intimação: “Cara,
vá montar um áudio para o Youtube, crie teu espaço. Teus comentários são acima
da média”. Ele não fala mais que dois minutos, mas o suficiente para nos dar a
sensação de que existe, sim, vida criativa no mundo da crônica esportiva. Neste
meio em que José Trajano é um dos melhores, mas a badalação vai para as
estrelinhas perfumadas ou apresentadoras de dotes físicos avantajados ou que
muitos pensam que escrevem mas sequer leram um Nelson Rodrigues (que fazia de
uma simples jogada a inspiração para sua arte), Plínio não seria o mais
paparicado. Ele não precisa disso. Por favor, se forem contratá-lo para ser “um
igual”, não o façam. Que Plínio continue livre para comentar.